Ilustração: banco de imagens.
Acreditei que a sexualidade fosse algo que pudesse ser tratado como a matemática, ou seja, uma coisa exata, mas começo a perceber que sempre estive errado.
Ainda não esqueci a cena do meu amigo, da época do colégio, *Daniel, 23 anos, aspirante a jornalista, subindo na cadeira da sala de aula e declarando todo seu amor para uma amiga em comum.
Eu tinha certeza que o *Daniel era gay, logo quando o conheci tive que falar isso, pois não achava justo ser amigo dele e pensar algo a seu respeito e não comentar.
À época, ele negou e disse que havia sido muito apaixonado por uma garota também do colégio. Isso me deixou confuso, mas ainda continuei achando que o cara era homossexual. Alguns anos depois, ele finalmente me revelou ser gay.
Achei ótimo. Eu tinha mais alguém para falar de outros homens comigo.
“Forcei-me tanto que eu poderia ser hétero, que por um instante cheguei a acreditar. Acho que gays podem se apaixonar apenas pela personalidade das mulheres, mas não fisicamente, porque é instintivo, o desejo sexual é algo incompreensível e incontrolável.
‘Sabemos que gostamos de homens, a figura masculina é o que acende o desejo. Com mulheres, seria um namoro sem sexo, então voltaríamos para a velha e conhecida amizade.
‘Foi imprescindível passar por isso, para eu me conhecer e sacar o que eu realmente gostava. O que realmente faltava para amar alguém de fato.”
*Daniel, 23 anos, aspirante a jornalista. – mensagem enviada por Facebook.
“Achava o *Daniel efeminado, suspeitava dele, mas também sempre o vi como um amigo. Tenho outro amigo que uma vez pediu para que eu o testasse, eu testei, aliás, beijei. Acredito que os gays têm curiosidade de experimentar.”
*Sofia, 23 anos, corretora de imóveis, mora na zona leste da cidade, uma das paixões de *Daniel no colégio. Até hoje, *Sofia e *Daniel são amigos. – mensagem enviada por Facebook.
***
Houve um garoto na época da faculdade por quem eu sempre tive, uma certa “queda”. Foi uma decepção quando entrei na página do Orkut dele e vi que o cara estava namorando e, para minha surpresa, era uma garota. Eu achava que ele pudesse ser gay, mas vê-lo com uma garota me deixou desconcertado.
Um tempo depois, descobri que ele havia terminado o namoro e agora saía com caras. Isso não significou nada, a faculdade acabou. E acho que nunca mais vamos nos ver.
E foi por essa razão, que ainda bêbado, durante a festa de formatura, confessei no ouvido dele que qualquer pessoa que o encontrasse seria realmente muito sortuda.
E novamente nada mudou e nem mudará, apesar da minha declaração embaraçosa. Preferiria que ele continuasse saindo com mulheres, assim eu não ficaria com ciúmes em saber que ele está saindo com algum cara. Ou seja, continuaria o vendo como inalcançável, mas com um motivo digamos que plausível, para eu apoiar minha frustração.
Enquanto escrevo este texto, estou cheio de interrogações na minha cabeça. Será que a sexualidade pode transcender qualquer regra de comportamento pré – estabelecido, do tipo ser hétero ou ser homo e até mesmo bi?
Eu lembro de ter me apaixonado por uma mulher. Eu tinha seis anos e ela 20 e poucos, eu acho, a garota era minha professora do jardim, seu nome era Cláudia, uma loira de olhos azuis turquesa. Eu investi nela, caprichava nos meus desenhos, mas foi algo passageiro.
Depois disso, eu só beijei algumas garotas quando me encontrava bêbado em festas, eram todas minhas amigas, também bêbadas. Nunca senti nada, nem arrepio e não exibo isso como um troféu, foi tudo natural. Sei que existe parte de mim que pode beijar e até transar com uma mulher, mas há algo maior que me dá a certeza de que sou gay.
Não ter medo de se descobrir é o melhor ato de coragem que qualquer pessoa pode ter.
Ser gay, hétero ou bi, enfim, sexualidade não é questão de opção, pode ter algo a ver com o biológico, psicológico, divino ou sei lá, mas posso afirmar que podemos optar em viver o que somos de verdade.
[ * ] Este texto retrata uma memória e testemunho pessoal. Para manter o anonimato e a privacidade de terceiros, nomes foram trocados e a descrição dos eventos sofreu compressão, além de diálogos recriados.
Texto atualizado em: 25/01/2023
Tudo Sobre Eles 
os textos de adriano oliveira são de uma sinceridade e ao mesmo tempo de uma delicadeza impressionantes.
Essas coisas são bem possíveis na ficção, nas novelas da Globo (um homo se apaixonar por uma mulher). Na prática é meio polêmico. Biologicamente é possível, isso acontece entre animais, por exemplo, geralmente no sentido hetero-homo. O que eu acho que acontece é que a imensa afeição que o gay adquire por determinada mulher faz com que as questões de intimidade (e não da sexualidade) fiquem mais fluidas. O pênis tem uma função meio que automática controlada pelo sistema nervoso autônomo na pontinha da medula espinhal, teoricamente qualquer esfregadinha deveria provocar ereção. se não houver inibições, a ereção acontece e já vi homens transando com abacaxis ocos. Muitos homens gays mantêm uma relação com mulher assim durante anos, sem perceber. Somente um despertar emocional por outro homem pode fazer as coisas mudarem. Existe determinado segmento da sociedade, os chamados LIBERACIONISTAS, que aceitam a relação entre dois homens, desde que não ganhe a esfera pública, por exemplo, se beijarem numa praça, se casarem, etc. Eles também não acreditam que exista o homossexual. Batem na tecla que é opção, e perfeitamente reversível. Esse posicionamento, muito comum nas novelas da globo e entre muitos juristas, cria um desconforto muito grande para nós, homossexuais, pq apesar de não serem ostensivamente persecutórios, os liberacionistas não resolvem o nosso conflito com a sociedade na medida em que não existimos, temos que provar que existimos como uma terceira sexualidade. Este tipo de visão também não permite retirar todos os estigmas, principalmente religiosos, que incidem sobre nós. Adriano, obrigado por ter um site tão sério como esse para que a gente discuta sobre essas coisas com tanta gente boa! Beijos!
Olá sou a Daiana e sou hetero, mas isso não me impede de admirar a coragem e a inteligencia do meu grande amigo autor deste blog.
Atitudes como esta faz com que o mundo homosexual esteja aberto para quem quiser conhecer,e realmente acredito que assim possa até diminuir a ignorancia que é o preconceito
Parabéns!
Oi sou sivana sou uma mulher hétero e mim apaixonei por um homem gey 😭 ele não saber que tenho sentimentos pô ele e claro eu nunca contaria até pq sei que ele não curte mulher e assima de tudo e meu professor só rezo para a faculdade terminar logo talvez ficando longe uma hora passará esse amor platônico
Oi,
Eu de verdade desejo que você possa encontrar alguém que te corresponda. Infelizmente, não mandamos no coração. Mas o tempo faz a gente entender que merecemos amar e sermos amados de volta. Isso é ter paz no amor.
É uma questão complexa chegarmos a conclusão da Sexualidade que teremos e/ou temos! Podemos admirar a beleza da mulher, a profissional que ela seja, a maneira de pensar dela, mas daí a admiração ser atração há uma distância, mas podemos amá-la e esse amor pode ser de amizade e não “amor conjugal”! Pode haver um casal que a gente conheça os dois, diga até, que lindos, mas acabamos a vir transar com ele. E quem nunca ouviu o comentário de critica por ter havido a relação fluida. Mas acontece e o tempo mostra como que curiosidade de conhecer a “pegada” do “amigo que é maridão” e tanto que nem voltam a transar, geralmente!: